No capítulo 38 de Gênesis vemos que abre-se um parênteses na
história de José, iniciada no capítulo 37, que termina com a venda de José a
Potifar, já no Egito
Gênesis 38:
1 E
aconteceu no mesmo tempo que Judá desceu de entre seus irmãos e entrou na casa
de um homem de Adulão, cujo nome era Hira,
2 E viu
Judá ali a filha de um homem cananeu, cujo nome era Sua; e tomou-a por mulher,
e a possuiu.
3 E ela
concebeu e deu à luz um filho, e chamou-lhe Er.
4 E tornou
a conceber e deu à luz um filho, e chamou-lhe Onã.
5 E
continuou ainda e deu à luz um filho, e chamou-lhe Selá; e Judá estava em
Quezibe, quando ela o deu à luz.
6 Judá,
pois, tomou uma mulher para Er, o seu primogênito, e o seu nome era Tamar.
7 Er,
porém, o primogênito de Judá, era mau aos olhos do SENHOR, por isso o SENHOR o
matou.
8 Então
disse Judá a Onã: Toma a mulher do teu irmão, e casa-te com ela, e suscita
descendência a teu irmão.
9 Onã,
porém, soube que esta descendência não havia de ser para ele; e aconteceu que,
quando possuía a mulher de seu irmão, derramava o sêmen na terra, para não dar
descendência a seu irmão.
10 E o que
fazia era mau aos olhos do SENHOR, pelo que também o matou.
11 Então
disse Judá a Tamar sua nora: Fica-te viúva na casa de teu pai, até que Selá,
meu filho, seja grande. Porquanto disse: Para que porventura não morra também
este, como seus irmãos. Assim se foi Tamar e ficou na casa de seu pai.
12 Passando-se pois muitos dias, morreu a filha de Sua, mulher de Judá; e depois
de consolado Judá subiu aos tosquiadores das suas ovelhas em Timna, ele e Hira,
seu amigo, o adulamita.
13 E deram
aviso a Tamar, dizendo: Eis que o teu sogro sobe a Timna, a tosquiar as suas ovelhas.
14 Então ela
tirou de sobre si os vestidos da sua viuvez e cobriu-se com o véu, e
envolveu-se, e assentou-se à entrada das duas fontes que estão no caminho de
Timna, porque via que Selá já era grande, e ela não lhe fora dada por mulher.
15 E vendo-a
Judá, teve-a por uma prostituta, porque ela tinha coberto o seu rosto.
16 E
dirigiu-se a ela no caminho, e disse: Vem, peço-te, deixa-me possuir-te.
Porquanto não sabia que era sua nora. E ela disse: Que darás, para que possuas
a mim?
17 E ele
disse: Eu te enviarei um cabrito do rebanho. E ela disse: Dar-me-ás penhor até
que o envies?
18 Então ele
disse: Que penhor é que te darei? E ela disse: O teu selo, e o teu cordão, e o
cajado que está em tua mão. O que ele lhe deu, e possuiu-a, e ela concebeu
dele.
19 E ela se
levantou, e se foi e tirou de sobre si o seu véu, e vestiu os vestidos da sua
viuvez.
20 E Judá
enviou o cabrito por mão do seu amigo, o adulamita, para tomar o penhor da mão
da mulher; porém não a achou.
21 E
perguntou aos homens daquele lugar, dizendo: Onde está a prostituta que estava
no caminho junto às duas fontes? E disseram: Aqui não esteve prostituta alguma.
22 E
tornou-se a Judá e disse: Não a achei; e também disseram os homens daquele
lugar: Aqui não esteve prostituta.
23 Então
disse Judá: Deixa-a ficar com o penhor, para que porventura não caiamos em
desprezo; eis que tenho enviado este cabrito; mas tu não a achaste.
24 E
aconteceu que, quase três meses depois, deram aviso a Judá, dizendo: Tamar, tua
nora, adulterou, e eis que está grávida do adultério. Então disse Judá: Tirai-a
fora para que seja queimada.
25 E
tirando-a fora, ela mandou dizer a seu sogro: Do homem de quem são estas coisas
eu concebi. E ela disse mais: Conhece, peço-te, de quem é este selo, e este
cordão, e este cajado.
26 E
conheceu-os Judá e disse: Mais justa é ela do que eu, porquanto não a tenho
dado a Selá meu filho. E nunca mais a conheceu.
27 E
aconteceu ao tempo de dar à luz que havia gêmeos em seu ventre;
28 E sucedeu
que, dando ela à luz, que um pôs fora a mão, e a parteira tomou-a, e atou em
sua mão um fio encarnado, dizendo: Este saiu primeiro.
29 Mas
aconteceu que, tornando ele a recolher a sua mão, eis que saiu o seu irmão, e
ela disse: Como tu tens rompido, sobre ti é a rotura. E chamaram-lhe Perez.
30 E depois
saiu o seu irmão, em cuja mão estava o fio encarnado; e chamaram-lhe Zerá.
Interessante notar que, logo no primeiro versículo, lemos
que Judá se separou de sua família. Pelo momento que a história é contada –
logo após terem vendido seu irmão – podemos supor que ele tenha preferido se
afastar para não ter que conviver com o sofrimento de seu pai e sobretudo por
causa da mentira que ocultava.
Naquela época, uma viúva sem filhos teria sérios problemas
na vida. Ela estaria condenada à mendicância após a morte de seus pais, pois o
marido era responsável pelo sustento e o filho, pela garantia da herança. Após
a morte de seu esposo, Tamar lutou pelo seu “direito de ter um filho” e
sobretudo garantir os direitos de Er, seu esposo, em ter o seu nome preservado
através de um descendente. Em tais situações, era dever do cunhado perpetuar a
linhagem de seu irmão falecido (lei do levirato) e a também prover o sustento e
as necessidades da viúva.
Cumprindo-se a lei do levirato, Judá entrega Tamar a Onã,
seu filho do meio. Por essa lei, o cunhado só poderia ter relações para gerar
um herdeiro para o irmão falecido, sendo que após a concepção, ela seria novamente viúva e não
poderia mais ter relações. Onã porém agiu com mesquinhez, primeiro porque não
queria ter que dividir sua herança com o filho que nasceria da cunhada (e a
herança do primogênito, ou seja, do filho mais velho que faleceu, era dobrada).
Segundo, porque queria continuar mantendo relações. Então ele usou-se de um
artifício para não engravidar a cunhada – derramava o sêmen na terra. Tal
atitude custou-lhe a vida.
Entretanto, para Judá e sua esposa o problema não estava nos
filhos – estava em Tamar. Já percebeu como nós temos a tendência de culpar
outros pelos nossos problemas? Como é difícil para nós analisar uma situação de
maneira imparcial e reconhecer que a culpa não está em outras pessoas, mas em
nós mesmos? É muito mais fácil jogar a culpa no demônio do que assumir que o
problema está em nós. Vemos isso muito claramente no versículo 11. Judá não estava
disposto a fazer cumprir a lei do levirato, entregando o filho mais novo para
Tamar – ele achava que, de alguma forma, ela era a responsável pela morte de
seus dois filhos mais velhos.
Entretanto, a lei do levirato prevê que, para continuar uma
linhagem, o próprio pai poderia gerar filho com sua nora – e Judá sequer
cogitou essa solução. Foi essa lei que as filhas de Ló utilizaram para gerar
filhos para seu pai, uma vez que achavam que não havia mais ninguém na terra
além deles.
Judá manda, no versículo 11, Tamar de volta para a casa de
seus pais, prometendo que assim que o filho mais novo estivesse na idade de
casar, ele a chamaria.
O tempo foi passando e ficou claro para Tamar que, se
dependesse de Judá, ela estaria condenada a ser uma viúva sem filhos. Mas ela
tinha direitos, e não abriu mão deles. Depois da morte da sogra, conhecendo os
hábitos do sogro, ela colocou em prática uma estratégia ousada: se fez passar
por uma prostitua cultual. O que era uma prostituta cultual? As prostitutas
cultuais eram usadas nos cultos de fertilidade no Oriente Médio. Nesses cultos
acreditava-se que a colheita e os rebanhos eram aumentados pelo intercurso
ritual com as prostitutas de certas deusas como Aserá, Asterote e Anate. Elas
normalmente cobriam o rosto, pois acreditava-se que as próprias deusas
“encarnavam” nessas mulheres.
Tamar havia pensado em todos os detalhes. Ela sabia que sua
vida estaria em risco quando sua barriga começasse a crescer e os fofoqueiros
de plantão (não se preocupe, eles são mais antigos que a profissão de
prostituta) levassem a notícia a Judá. Como não havia exame de DNA na época,
ela precisaria provar quem era o pai da criança, sem deixar sombra de dúvida.
Ela então fica com alguns pertences de Judá, como penhor: o selo, o cordão e o
cajado.
Quando a notícia chegou a
Judá (v.24), sua reação foi a esperada: “Queimem a vagabunda!”. Veja
como a notícia chegou: “tua nora adulterou e eis que está grávida do
adultério“. Cuidado com as notícias que você recebe! Eles nem se deram ao
trabalho de saber quem era o pai ou se porventura ela havia sido violentada. O
julgamento já havia sido dado – ela adulterou e ponto. Pior ainda – eles nunca
se importaram em interceder por Tamar junto a Judá para que ele lhe enviasse o
filho menor. Eles estavam prontos para criticar, acusar mas não para ajudar.
Infelizmente, o quadro hoje não é muito diferente…
Em sua sabedoria, Tamar espera o momento certo para
“esfregar o exame de DNA na cara de Judá”. E o reconhecimento de paternidade
por parte dele, declarando ter sido ela mais justa que ele mesmo. Essa mulher
admirável, que não aceitou abrir mão do que era seu por direito.
Agora, vejamos o que ocorria no mundo espiritual. Em Gênesis
49 lemos:
8 Judá, a
ti te louvarão os teus irmãos; a tua mão será sobre o pescoço de teus inimigos;
os filhos de teu pai a ti se inclinarão.
9 Judá é um
leãozinho, da presa subiste, filho meu; encurva-se, e deita-se como um leão, e
como um leão velho; quem o despertará?
10 O cetro
não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló;
e a ele se congregarão os povos.
11 Ele
amarrará o seu jumentinho à vide, e o filho da sua jumenta à cepa mais
excelente; ele lavará a sua roupa no vinho, e a sua capa em sangue de uvas.
12 Os olhos
serão vermelhos de vinho, e os dentes brancos de leite.
O que ocorreu no capítulo 38 foi uma tentativa do inimigo em
fazer cessar a descendência da qual viria o Messias (Siló). O evangelho de
Mateus inicia assim:
Mateus 1
1 Livro
da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
2 Abraão
gerou a Isaque; e Isaque gerou a Jacó; e Jacó gerou a Judá e a seus irmãos;
3 E Judá
gerou, de Tamar, a Perez e a Zerá; e Perez gerou a Esrom; e Esrom gerou a Arão;
4 E Arão
gerou a Aminadabe; e Aminadabe gerou a Naassom; e Naassom gerou a Salmom;
5 E Salmom
gerou, de Raabe, a Boaz; e Boaz gerou de Rute a Obede; e Obede gerou a Jessé;
6 E Jessé
gerou ao rei Davi; e o rei Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias.
7 E Salomão
gerou a Roboão; e Roboão gerou a Abias; e Abias gerou a Asa;
8 E Asa
gerou a Josafá; e Josafá gerou a Jorão; e Jorão gerou a Uzias;
9 E Uzias
gerou a Jotão; e Jotão gerou a Acaz; e Acaz gerou a Ezequias;
10 E Ezequias
gerou a Manassés; e Manassés gerou a Amom; e Amom gerou a Josias;
11 E Josias
gerou a Jeconias e a seus irmãos na deportação para babilônia.
12 E, depois
da deportação para a babilônia, Jeconias gerou a Salatiel; e Salatiel gerou a
Zorobabel;
13 E
Zorobabel gerou a Abiúde; e Abiúde gerou a Eliaquim; e Eliaquim gerou a Azor;
14 E Azor
gerou a Sadoque; e Sadoque gerou a Aquim; e Aquim gerou a Eliúde;
15 E Eliúde
gerou a Eleázar; e Eleázar gerou a Matã; e Matã gerou a Jacó;
16 E Jacó
gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu JESUS, que se chama o Cristo.
17 De sorte
que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; e desde
Davi até a deportação para a babilônia, catorze gerações; e desde a deportação
para a babilônia até Cristo, catorze gerações.
Interessante notar que Tamar está entre as três únicas
mulheres que aparecem na genealogia de David e, por consequência, de Jesus. As
outras, Raabe uma ex-prostitua e Rute, uma moabita.
Não abra mão daquilo que é seu por direito. Se você recebeu
um sonho, uma promessa de Deus, não desanime, não deixe que as situações
contrárias lhe façam desistir. Mesmo que, à semelhança de Tamar, joguem a culpa
do fracasso sobre você, não permita que isso lhe lance sobre o marasmo e a
depressão. Conheça seus direitos. Faça-os valer. Deus lhe dará sabedoria e
estratégia para conquistar aquilo que é seu por direito.
Creio que se Tamar tivesse um hino, seria muito semelhante à
música “Se tentaram matar os teus sonhos”, de Ludmila Ferber:
Se tentaram matar os seus sonhos,
sufocando o seu coração,
se lançaram você numa cova,
e ferido perdeu a visão,
se tentaram matar os seus sonhos,
sufocando o seu coração,
se lançaram você numa cova,
e ferido perdeu a visão...
Não desista não pare de crer
os sonhos de Deus jamais vão morrer!
Não desista não pare de lutar,
não pare de adorar,
levanta os teus olhos e vê:
Deus está restaurando os seus sonhos
e a sua visão...
Recebe a cura,
recebe a unção,
unção de ousadia,
unção de conquista,
unção de multiplicação...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Esta postagem realmente é muito forte, sendo assim, te convido a ler e meditar no seu conteúdo e depois, peço-te, deixe ai seu comentário, sua crítica, seu recado, sua opinião... E compartilhe em sua rede social.
Pois assim você estará me ajudando a melhorar este espaço!
(1)Reservo o direito de não públicar criticas negativas de "anônimos". Quer criticar e ter a sua opinião publicada? Identifique-se.
(2) Discordar não é problema. É solução, pois redunda em aprendizado! Contudo, com educação. Sem palavrão! (3) Ofereça o seu ponto de vista, contudo, a única coisa que não aceitarei é esta doutrina barata do “não toque no ungido” do Senhor. não venha me criticar por falar contra aqueles que penso serem enganadores e falsos profetas.
Sinta-se em sua casa! Ou melhor, em seu blog!