[Artigo publicado originalmente no Jornal Mensageiro da Paz - julho de 2013]
Recentemente o Instituto LifeWay Research [1] divulgou o resultado de uma pesquisa que apontou que boa parte dos evangélicos não conhecem as doutrinas básicas da Igreja. O levantamento concluiu que temas como a salvação, a Bíblia e a natureza de Deus podem confundir os fiéis. De acordo com a publicação, quando perguntados ”Quando você morrer irá para o céu, pois confessou seus pecados e aceitou Jesus Cristo como seu Salvador?”, 19% disseram que não tem certeza. Cerca de 26% dos entrevistados (todos membros batizados de suas igrejas) acreditam que “se uma pessoa está sinceramente buscando a Deus, poderá obter a vida eterna através de outras religiões além do cristianismo”.
O resultado dessa triste pesquisa poderia ser uma exceção; mas não é. Outros estudos comprovam a falta de conhecimento bíblico de uma parcela considerável de cristãos, prova disso é que no final de 2011 o Instituto de Pesquisas Barna apontou, como uma das seis principais tendências do Cristianismo na América, que a igreja está se tornando menos alfabetizada teologicamente. O que costumavam ser verdades básicas e universalmente conhecidas sobre o Cristianismo, são agora mistérios desconhecidos para uma grande e crescente parte de crentes.
Outro levantamento do mesmo instituto também indicou que 70% dos norte-americanos não são capazes de citar cinco dos dez Mandamentos e 50% dos jovens do último ano do ensino médio pensam que Sodoma e Gomorra eram casados. Mas não para por aí. Pesquisa realizada com os “americanos nascidos de novo” conclui o seguinte: 31% acreditam que se uma pessoa é suficientemente boa pode ganhar um lugar no céu; aproximadamente a metade (47%) pensa que Satanás “não é um ser real senão um símbolo do mal”; 24% pensam que quando Jesus viveu na Terra ele pecou, tal como as demais pessoas; aproximadamente um em cada quatro pessoas (26%) dos cristãos creem que não importa a fé que pessoa siga, porque todas ensinam o mesmo.
Embora boa parte dessas investigações tenha sido realizada nos Estados Unidos, elas servem de alerta para a igreja evangélica brasileira. Não estamos falando de conhecimento teológico avançado, mas de doutrinas elementares e de um discernimento bíblico basilar da vida cristã.
A falta de conhecimento das Escrituras Sagradas é um problema grave e pode resultar em consequências trágicas para o cristão e para a igreja. O Senhor Jesus foi enfático ao dizer “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus (Mt 22:29), e em outra oportunidade ele advertiu: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (Jo 5.39).
Talvez, um dos principais motivos do analfabetismo bíblico entre os cristãos seja a falta de conhecimento doutrinário do próprio pastor. Lembro-me que uma pesquisa [2] realizada pelo editor e jornalista da Abba Press & Sociedade Bíblica Ibero-Americana, Oswaldo Paião, revelou que mais de 50% dos pastores e líderes nunca leram a Bíblia Sagrada por inteira pelo menos uma vez na vida. A principal justificativa apresentada para tamanha omissão era a falta de tempo.
Ao comentar o resultado do estudo, Paião afirma que “a falta de uma disciplina pessoal para determinar uma leitura sistemática, reflexiva e contínua das escrituras sagradas e pressão por parte do povo, que hoje em dia cobra por respostas rápidas, positivas e soluções instantâneas para problemas urgentes, sobretudo os ligados a finanças, saúde e vida sentimental”, seriam alguns fatores ensejadores deste cenário.
Ele ainda destaca que hoje em dia a maioria dos pastores corre o dia todo para resolver os problemas práticos e urgentes dos membros de suas igrejas e os pessoais. Outros precisam complementar a renda familiar e acabam tendo outra atividade, fora a agenda lotada de compromisso, por isso os ministros da atualidade, em geral, segundo Paião, são mais temáticos, superficiais, carregam na retórica, usam (conscientemente ou não) elementos da neurolinguística, motivação coletiva, força do pensamento positivo e outras muletas didáticas e psicológicas.
Evidentemente que a situação não pode ser generalizada. Deus sempre mantém o seu remanescente fiel. Entretanto, as palavras de Paião colocam em evidência uma realidade assombrosa e ao mesmo tempo ignorada por muitos obreiros. Como teremos cristãos conhecedores das doutrinas fundamentais da fé cristã se boa parte dos líderes não possui o conhecimento suficiente para instruir, edificar e fornecer alimento sólido para suas ovelhas?
Ovelhas que são criadas sem os nutrientes necessários para a jornada cristã são inconstantes e presas fáceis para caírem no engodo de qualquer vento de doutrina (Ef 4.14). Essa situação é agravada ainda mais quando dos púlpitos provém somente mensagens de autoajuda com forte apelo emocional, sem qualquer palavra de ensinamento para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda a boa obra (2 Tm 3.17).
Entretanto, apesar do encargo do obreiro (Hb 13.17), o cristão também é o responsável pelo seu próprio alicerce espiritual. Estar preparados para responder sobre a razão da nossa esperança (1Pe 3.15) e ser mestres pelo tempo (Hb 5.12) é uma obrigação de todo o crente. Isso porque, as verdades bíblicas não estão disponíveis somente aos obreiros, mas a toda e qualquer pessoa, principalmente porque o acesso direto ao conhecimento das Escrituras sem qualquer intermediário é um dos pontos fundamentais da igreja cristã a partir da reforma protestante.
Isso no leva a concluir que cada pessoa deve ser consciente e responsável pelo cumprimento do seu papel. O obreiro deve valorizar e efetivamente cumprir o seu chamado, oferendo alimento saudável e fortalecido para as suas ovelhas, sem a desculpa de não possuir o ministério do ensino, afinal, todo obreiro tem o dever de apresentar-se a Deus aprovado, que não tem do que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade (2 Tm 2.15).
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