Nossa época é cheia de enganos. A simulação nunca esteve em posição tão eminente como agora. Há poucos, eu temo, que amam a verdade nua e crua: dificilmente nós a aguentamos em nossas casas; raramente você fará negócios com alguém que se atenha estritamente a ela. Se você andar pelas ruas de Londres, pensará que todas as lojas são feitas de mármore e todas as portas são de mogno e das mais raras madeiras. Mas logo descobrirá que raramente vai encontrar um pedaço sequer desses preciosos materiais em qualquer das lojas, e que tudo é imitação e aparência e verniz. Não vejo problema com essas coisas, exceto que é a representação externa de um mal interior que ali está. Assim como acontece em nossas ruas, assim é em todo lugar: imitação, aparência e verniz são altamente valorizados. A falsificação alcançou tal importância, que é com grande dificuldade que se consegue detectá-la.
A falsificação se aproximou de tal forma daquilo que é verdadeiro, que o próprio olho da sabedoria precisa ser iluminado antes que consiga discernir a diferença entre uma coisa e outra. Isso acontece especialmente nos assuntos religiosos. Houve uma época de intolerância para com ideias e crenças diferentes, quando cada homem era pesado na balança; e se ele não estivesse exatamente dentro do padrão ortodoxo daqueles dias, era devorado pelo fogo. Mas nesta época de caridade e de cada vez mais caridade, estamos inclinados a permitir que a falsificação seja aceita como válida, e a imaginar que a aparência exterior é tão importante quanto a realidade interior. Hoje, mais do que nunca, é preciso dizer: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia”.
O ministro de Deus talvez possa parar de pregar essa doutrina em dias de perseguição. Quando as fogueiras estão queimando e as torturas estão sendo aplicadas, poucos são os homens hipócritas. Fogueiras e torturas são ótimos meios de descobrir impostores; sofrimento, dor, e morte por causa de Cristo não serão suportados por meros hipócritas. Mas nesta época sem esse tipo de problema, quando ser religioso é ser respeitado; quando seguir a Cristo é ser honrado; e quando a própria piedade se tornou lucro, é duplamente necessário que o ministro de Deus erga a voz como uma trombeta contra o pecado: “o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia”.
O cristão, contudo, não pertence a essa classe. De vez em quando, ele ficará terrivelmente alarmado para que, por fim, a sua piedade não se torne apenas aparente e a sua profissão de fé se transforme numa presunção vazia. De tempos em tempos, aquele que é verdadeiro desconfiará de si mesmo, verificando se porventura não anda falsamente, ao passo que aquele que é falso se esconderá numa constante confiança em sua própria sinceridade. Meus queridos irmãos, se vocês estão em dúvida quanto a sua própria sinceridade, as verdades que vou lhes dizer talvez os ajudem a sondar seu próprio coração e a provar os seus próprios motivos; e estou certo que vocês não haverão de me censurar se eu lhes parecer muito severo. Em vez disso, você haverá de dizer: “Senhor, eu quero estar seguro quanto a minha própria alma; diga-me com toda fidelidade e me fale honestamente quais são os sinais de um hipócrita, e eu vou ficar sentado tentando ler meu próprio coração para descobrir quais dessas coisas dizem respeito a mim mesmo. E ficarei feliz se eu puder sair do fogo mais puro do que o ouro”.
O caráter do hipócrita: No capítulo que acabamos de ler, Mateus 23, temos uma cuidadosa descrição do hipócrita, e não conheço melhor método de expor o assunto do que me reportar outra vez às palavras de Cristo.
Um hipócrita pode ser conhecido pelo fato que as suas palavras e suas ações são contrárias umas às outras.Como Jesus diz: “Eles dizem e não fazem”. O hipócrita fala como um anjo; ele cita textos com a maior rapidez. Ele consegue falar a respeito dos assuntos religiosos, quer sejam doutrinas teológicas, questões metafísicas, ou dificuldades práticas. Em sua opinião, ele sabe muito e quando começa a falar, você com frequência se sentirá envergonhado da sua própria ignorância na presença do conhecimento superior dele.
Mas repare quando ele chega à prática. O que você vê ali? A maior contradição de tudo aquilo que ele estava dizendo.Ele diz aos outros que precisam obedecer à Lei. E ele obedece? Ah, não! Ele declara que os outros precisam experimentar isto, aquilo, e aquiloutro; e ele expõe um elaborado método de vida, muito acima da própria vida cristã. Mas ele toca aquilo? Não, nem mesmo com a ponta de um só de seus dedos. Ele dirá aos outros o que devem fazer.Mas ele se lembra do seu próprio ensino? Não, não ele! Siga-o até a sua casa, investigue-o no mercado, repare nele enquanto compra: e se você quer refutar a pregação dele, facilmente encontrará argumentos na própria vida dele. Meu ouvinte! Será esse o seu caso?
Com vergonha, cada um de nós precisa confessar que em certa medida, nossa vida contradiz aquilo que professamos.Coramos de vergonha e lamentamos isso... Ah! Creiam-me, meus ouvintes: falar é fácil, mas fazer é difícil. Falar qualquer homem pode falar, mas o difícil é agir. Nós precisamos de graça interior para fazer santa a nossa vida; mas a piedade só de lábios não carece de graça. A primeira característica de um hipócrita, então, é que ele contradiz com suas ações aquilo que afirma com a boca. Será que alguém de vocês faz isso? Se faz, reconheça a sua hipocrisia, curve a cabeça, e confesse o seu pecado.
Outra característica do hipócrita é que, quando ele faz algo bom, é com o intuito de ser visto pelos homens.O hipócrita toca trombeta antes de dar esmolas e faz suas orações nas esquinas das ruas. Para ele, ser virtuoso sem ser visto é quase um defeito: ele não consegue ver nenhuma beleza na virtude, a não ser que haja mil olhos a contemplá-la; aí, sim, ela vale alguma coisa. O verdadeiro cristão, como o rouxinol, canta de noite; mas o hipócrita canta todas as suas canções de dia, quando pode ser visto e ouvido pelos homens. Ser bem falado pelos outros é o elixir que prolonga a sua vida. Ser elogiado é como vinho suave para ele. A censura de alguém a respeito de alguma virtude faz com que ele mude de opinião sobre o assunto num instante, pois o padrão dele é a opinião dos seus semelhantes. A sua lei é a lei do interesseiro e da autopromoção: ele cultiva a virtude porque ser virtuoso implica em receber elogios. Mas se amanhã a maldade fosse mais prestigiada, ele se tornaria tão mau quanto os outros. Há muitos que estão à procura é de aplausos.
Agora, é esse o seu caso? Sejamos honestos em nosso auto-exame. Quando ajudamos os pobres, tentamos fazê-lo secretamente, quando ninguém vai comentar o assunto? Fazemos nossas orações em nosso quarto, onde Deus, que ouve o clamor em secreto, atende a nossa súplica? Podemos dizer que, se os homens todos fossem como pedras cegas, surdas e mudas, não alteraríamos nossa conduta nem um pouco? Podemos dizer que a opinião dos nosso semelhantes não é a lei que nos guia, mas que somos servos do nosso Deus e da nossa consciência, e não faremos nenhum mal devido a bajulação, nem nos sentiremos instigados a agir corretamente por medo de sermos censurados? Veja: aquele cuja motivação para agir corretamente não é mais do que o desejo de ser elogiado pelos outros tem todos os indícios de ser um hipócrita. Mas aquele que faz o que é certo, mesmo contra a opinião dos outros, e o faz simplesmente porque crê que é o certo, e vê a aprovação de Deus sobre o que faz, não precisa temer que é um hipócrita... É o que acontece com você? Se é, seja honesto. E assim como você declararia culpado o seu semelhante, declare-se culpado a si mesmo.
Outra característica é que os hipócritas amam títulos, honras e o respeito dos homens. A maior alegria do fariseu era ser chamado Rabi1. Quando se encontrava no mais destacado lugar da sinagoga, sentia-se realmente grande... Mas o verdadeiro cristão não precisa de títulos. Uma das características dos cristãos é que em geral usam nomes ofensivos para serem identificados. Houve tempo em que o nome metodista era ofensivo. O que disseram esses bons homens para aqueles que lhes atribuíram esse nome? “Vocês nos chamam metodistas para nos ofender, não é? Pois esse será o nosso nome.” O nome puritano era o mais rude de todos; era a maneira pela qual os bêbados e os de boca suja se referiam a um homem piedoso. “Bem,” — disse o homem piedoso — “serei chamado de puritano. Se esse nome é uma vergonha, eu o assumirei.” Assim tem acontecido com o cristão por todo o mundo. Ele tem escolhido para si mesmo o nome que lhe foi dado maliciosamente pelo inimigo. Com o hipócrita isso não acontece. Ele assume o nome que lhe é mais honroso; ele quer sempre ser considerado como quem pertence ao mais respeitoso grupo, e dentro daquele grupo quer exercer um cargo que lhe confira o mais honrável título. E então, você pode dizer do íntimo da sua alma que em matéria de religião não está buscando honras ou títulos, mas que você pode desprezar sob seus pés isso tudo e não desejar grau mais elevado do que o de um pecador salvo pela graça e não querer maior honra do que sentar aos pés de Jesus e aprender dEle? Vocês estão dispostos a ser os desprezados seguidores do Filho do carpinteiro...? Se for assm, penso eu, vocês tem pouca hipocrisia dentro de si. Mas se O seguem apenas porque são honrados pelos homens, adeus à sinceridade da religião de vocês!
Havia uma outra característica do hipócrita, que ao mesmo tempo era algo bom, ou seja, ele coava um mosquito e engolia um camelo. Os hipócritas dos nossos dias não nos condenam por comermos sem lavar as mãos, mas continuam se concentrando em algumas omissões cerimoniais. O sabatismo2 tem fornecido à hipocrisia um excelente refúgio. Coisas necessárias feitas pelo cristão são objeto do horror santarrão dos fariseus; e obras de misericórdia e sorrisos de alegria são odiosos pecados na opinião do hipócritas, se feitos num domingo. Mas nosso Pai trabalha até agora e Cristo também trabalha, pois as obras de bondade, misericórdia e caridade são as obras apropriadas ao sábado; contudo se o cristão se dedica a isso, dizem que ele está transgredindo a santa Lei de Deus. A mais leve infração de alguma cerimônia religiosa torna-se um grande pecado aos olhos do hipócrita. Mas ele, pobre coitado, que acha defeitos em você em assuntos tão triviais, coando um mosquito, é aquele que você verá enganando, adulterando suas mercadorias, mentindo, aumentando artificialmente os preços, e oprimindo os pobres. Tenho reparado que aqueles que se preocupam com pequeninas coisas, que estão sempre à procura de pequenos pontos de controvérsia, são exatamente os que omitem os mais importantes assuntos da Lei... Desconfie sempre de você mesmo quando você está mais preocupado com pequenas coisas do que com as coisas maiores. Se você perceber que fere mais a sua consciência o fato de não ter comparecido à comunhão do que enganar uma viúva, fique certo de que você está errado... Vocês podem estar absolutamente certos que é um enganador o homem que coa um mosquito mas engole um camelo. Prestem atenção, meus queridos amigos, vocês devem esforçar-se em coar os mosquitos, não tenho nenhuma objeção quanto a isso — vocês só não devem mais tarde engolir um camelo! Seja tão específico quanto quiser em matéria de certo e errado. Se você pensa que uma pequena coisa está errada, ela é errada para você: “... tudo o que não provém de fé é pecado” (Rm 14.23). Se você não tem liberdade para fazê-lo, crendo que está certo em não praticar aquilo, mesmo que outra pessoa possa fazer aquilo e fazê-lo com a consciência tranquila, para você isso não é certo. Seja criterioso com os mosquitos; eles não são coisa boa nas suas vinhas; esforce-se para expulsá-los! É bom livrar-se deles, mas depois não abra a boca para engolir um camelo. Pois se você fizer isso, não dará evidência de ser um filho de Deus, mas provará que é um detestável hipócrita.
Mas continue a leitura desse capítulo, e você verá que essas pessoas negligenciavam toda a parte interior da religião, observando apenas os ritos exteriores. Nosso Salvador afirmou que eles lavavam “o exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e intemperança” (Mt 23.25). Há muitos livros de capa bonita, mas sem conteúdo nenhum. E há muitos que apresentam um exterior muito espiritual, mas não têm nada no coração. Você conhece alguém assim? Se você conhecer a si mesmo, talvez descubra alguém assim. Você conhece alguém extremamente religioso, que dificilmente deixa de participar de algum dos meios da graça3, que pratica os rituais em todas as reuniões e formas, que não se desviaria nem um fio de cabelo de algum mandamento externo? Diante do mundo, parecem pessoas eminentemente piedosas porque são cuidadosos com as coisas externas do santuário; contudo são negligentes quanto aos assuntos do interior do coração. Contanto que tomem o pão e o vinho, não se importam que estejam comendo a carne e bebendo o sangue de Cristo. Contanto que sejam batizados com água, não se importam que tenham sido sepultados com Cristo na morte pelo batismo. Contanto que tenham comparecido à casa do Senhor, estão satisfeitos. Para eles não faz diferença se tiveram comunhão com Cristo ou não. Não, eles estão plenamente satisfeitos, contanto que a casca esteja bem; não se importam com a semente (a parte central, interior). O trigo pode ir para onde quiser — eles estão completamente satisfeitos com a palha, com o refugo, e com os talos, isso lhes basta e é o que lhes interessa.
Algumas pessoas que eu conheço são como as estalagens que têm um anjo na placa de entrada, mas têm um demônio como proprietário. Há muitas pessoas desse tipo. Elas tomam muito cuidado para manter com excelente aparência a placa; são conhecidos por todos os homens como rigidamente religiosos. Mas por dentro, que é o que realmente importa, estão cheios de perversidade. Mas eu tenho, às vezes, ouvido pessoas se equivocarem a esse respeito. Elas dizem: “Ah, bem, pobre homem; ele é um bêbado inveterado, com certeza; mas no fundo ele é um homem de muito bom coração”. Ora, como Rowland Hill4 costumava dizer, isso é de admirar, que alguém diga uma coisa dessas a respeito de outra pessoa: mau na superfície e bom no fundo. Quando os feirantes levam suas frutas ao mercado, não conseguem fazer os fregueses acreditar que possuem maçãs boas, se as que estão no topo estão podres. A conduta exterior de um homem é, em geral, um pouco melhor do que o seu coração. São muito poucos os homens que vendem coisas melhores do que aquelas que expõem na vitrine.
Por isso, não me entenda mal. Quando eu digo que temos de prestar mais atenção ao interior do que ao exterior, não pretendo que você deixe o exterior sem tratar. “Limpa o exterior do copo e do prato” — limpe-os o mais que você puder, mas tome cuidado também para que o interior esteja limpo. Cuide primeiro do interior. Pergunte a si mesmo: “Eu já nasci de novo? Já passei das trevas para a luz? Já fui resgatado do reino de Satanás para o reino do Filho amado de Deus? Será que eu vivo em comunhão pessoal com o Senhor Jesus? Posso dizer que meu coração anela o Senhor assim como a corça suspira pelas águas?” Porque se eu não posso afirmar essas coisas, qualquer que seja minha vida exterior, estou me enganando e enganando os outros, e os ais do hipócrita recaem sobre mim. Limpei o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de perversidade. Será isso verdade a respeito de qualquer de vocês? Estarei pregando algo de que eu mesmo sou culpado? Então Deus seja bendito por isso! Que a verdade seja a morte dos nossos enganos.
Você também pode conhecer um hipócrita por outra característica: a religião dele depende do lugar onde está, ou da hora do dia. Ele levanta às sete horas, talvez, e você o verá muito religioso por uns quinze minutos. Ele está, como disse um menino, “Fazendo as suas orações para si mesmo”, nesses primeiros minutos da manhã. Bem, depois você o encontrará bastante piedoso por outra meia hora, pois é o momento das orações em família. Mas quando ele começa a trabalhar, e ele conversa com seus subordinados, não garanto que você consiga considerá-lo com respeito e simpatia. Se um dos seus funcionários andou fazendo alguma coisa um pouco errada, você talvez o encontre usando palavras iradas e não adequadas. Você também o encontrará não exatamente piedoso, se ele encontrar um cliente que ele não julga lá tão esperto, pois vai tentar passar a perna nele. Você verá também que, se ele vir uma boa oportunidade em qualquer hora do dia, estará bem disposto a fazer alguma trapaça. Ele foi um santo de manhã, pois naquela hora ele não tinha nada a perder com aquilo. Mas ele não leva a religião com tanta seriedade assim. “Negócios são negócios”, diz ele, e coloca a religião de lado mediante o expediente de espichar a consciência, que no seu caso é feita de material bastante elástico. Bem, em algum momento à tarde você o verá outra vez bastante piedoso, a não ser que tenha saído de viagem, onde nem a esposa, nem a família, nem a igreja podem vê-lo. E você o encontrará nalgum teatro. Ele não iria se houvesse a possibilidade de um pastor ficar sabendo disso, pois seria excomungado. Mas ele não se importa de ir quando os olhos da igreja ou de qualquer de seus amigos não estiverem vendo o que faz. Roupas elegantes produzem elegantes cavalheiros, e lugares finos fazem finos hipócritas. Mas o homem que é verdadeiro para com Deus e para com a sua consciência é um cristão o dia todo e a noite toda, e é cristão em todo lugar. “Ainda que você me encha a casa de prata e ouro” — diz ele — “eu não faria nenhuma trapaça. Ainda que você me desse as estrelas e as incontáveis riquezas dos impérios, eu não faria aquilo que desonra a Deus ou que mancha a minha profissão de fé”.
Ponha o verdadeiro cristão onde possa pecar e ser elogiado por isso, e ele não o fará. Ele não odeia o pecado por causa dos outros, mas o odeia por motivos próprios. Ele diz: “Como poderia eu fazer essa maldade e pecar contra Deus?” Você descobrirá que ele é um homem falho, mas não é um homem falso. Você descobrirá que ele tem muitas fraquezas, mas não pecará de modo intencional, nem planejará pecar de propósito. Como cristão, você precisa seguir a Cristo tanto nos atoleiros quanto nos prados; você precisa andar com Ele tanto na chuva quanto no sol; você precisa andar com Ele tanto nas tempestades quanto no bom tempo. Não se pode chamar de cristão aquele que não consegue andar com Cristo nos trapos, na pobreza, nos insultos, na vergonha. Esse é o hipócrita que consegue andar com Cristo nos chinelos de prata e O abandona quando se torna necessário andar descalço... Será isso verdade a respeito de algum de nós? Podemos dizer que desejamos ser sempre os mesmos? Ou mudamos conforme nossas companhias e conforme o horário? Se for assim, somos hipócritas confessos, reconheçamos isso diante de Deus, e queira Deus nos fazer sinceros.
Há uma outra característica do hipócrita; e agora a ponta do chicote cairá em minhas próprias costas e da maioria de nós também. Os hipócritas, e outras pessoas além dos hipócritas, geralmente são severos com os outros e bastante tolerantes consigo mesmos. Você já ouviu um hipócrita descrever a si mesmo? Eu digo a ele: “Você é um sujeito sovina, miserável”. “Não, não sou,” — diz ele — “Eu sou é econômico”. Eu digo a ele: “Você é desonesto, é um ladrão”. “Não,” — diz ele — “eu apenas sou esperto e profissional”. “Certo,” — eu lhe digo — “mas você é orgulhoso e arrogante”. “Oh!” — diz ele — “O que eu tenho é apenas um adequado respeito próprio”. “Tudo bem, mas você é um bajulador fingido”. “Não,” — diz ele — “Eu me faço tudo para com todos”. De uma forma ou de outra ele fará os defeitos parecerem virtudes nele, mas ele seguirá critério diferente quando avaliar os outros. Mostre-lhe um cristão que de fato é humilde, e ele dirá: “Eu odeio esse jeito bajulador dele”. Diga-lhe que você conhece alguém que é muito ousado por Cristo: “Oh! Ele é atrevido demais e sem respeito” — ele dirá. Mostre-lhe alguém que é generoso, alguém que faz o que pode no serviço do Senhor, gastando e sendo gasto por Ele. “Irrefletido e imprudente” — diz ele — “Extravagante! Essa pessoa não sabe o que faz.” Você pode destacar uma virtude, e o hipócrita imediatamente diz que é um defeito. Você já viu um hipócrita virar médico? Ele tem uma vistosa trave no olho, suficientemente grande para expulsar da sua alma a luz celestial. No entanto, ele é um hábil oftalmologista. Ele se dispõe a ajudar algum pobre irmão, cujo olho está levemente infectado com um cisco, tão pequeno que mesmo a mais intensa luz do sol dificilmente o torna visível. Veja o nosso amigo da trave no olho; ele faz uma cara de entendido e dispara: “Deixe-me tirar esse cisco do seu olho!” “Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão” (Mt 7.5). Há pessoas do tipo que transforma as virtudes dos outros em defeitos, e os seus próprios defeitos eles transformam em virtudes. Se você é um cristão, vou dizer-lhe qual deve ser a sua atitude: ela deve ser exatamente o oposto. Você deve sempre desculpar os outros, mas jamais deve arrumar desculpas para si mesmo. O verdadeiro cristão, quando vê algum pecado em si mesmo, lamenta o fato e se perturba muito com isso. Ele diz: “Oh! Eu me sinto tão cheio de pecado”. E a pessoa que ouve diz: “Eu na verdade não consigo ver isso. Não vejo nenhum pecado em você; eu gostaria de ser tão santo quanto você é.” “Não,” — diz o cristão — “Eu sou cheio de defeitos”.
João Bunyan descreve Misericórdia, Cristiana, e as crianças depois que foram lavados na água e selados com o selo. Ele diz que elas saíram da água todas com aparência muito agradável; e uma começou a dizer à outra: “Você está mais bonita do que eu!” e: “Você é mais graciosa do que eu!” disse a outra. E então cada uma começou a lamentar seus próprios defeitos e a elogiar a beleza das outras. Esse é o espírito de um cristão. Mas o espírito de um hipócrita é exatamente o contrário: ele julgará e condenará e punirá com a lei do linchamento toda e qualquer outra pessoa. E quanto a si mesmo, ele está isento, ele é um rei, ele não conhece lei, e a sua consciência descansa e lhe permite prosseguir em paz nos próprios pecados que condena nos outros.
Escrito por Charles Spurgeon
Notas:
1 Titulo respeitoso dado pelos judeus aos doutores da Lei: meu grande; meu mestre.
2 Movimento daqueles que observam o Dia do Senhor (domingo) como o Sábado Cristão.
3 Os cultos públicos, a santa ceia, o batismo, a leitura da Palavra, as orações...
4 Rowland Hill (1744-1833) – Pregador anglicano que ministrou em Southwark, na Surrey Chapel, em Londres. Era um aristocrata convertido ao Evangelicalismo e um grande defensor da pregação itinerante. Muito citado por Charles Spurgeon.
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