O presente estudo tem o condão de apresentar um breve resumo do que foi a vida de Absalão, pois a história desse rapaz não teve um final feliz. Filho do Rei Davi, sua existência foi marcada por inúmeros pecados. Era uma pessoa atraente, simpática, e famosa, que realmente chamava a atenção. Poucas pessoas no mundo poderiam receber o tipo de descrição que dele é feita em 2ª Samuel cap. 14, v. 25.
Pois bem.
Quando lemos a sua história, registrada nos capítulos 13 a 18 de 2ª Samuel, logo vemos que ele era um daqueles “líderes natos”, com personalidade marcante e carismática. Era impulsivo em algumas ações, mas igualmente maquiavélico e conspirador para preencher suas ambições de poder. Por trás de um passado que abrigava até um assassinato de seu irmão, ele não hesitou em utilizar e manipular pessoas e voltar-se contra seu próprio pai, para vir a governar Israel. Uma vez no poder, demonstrou mais impiedade, crueldade e imoralidade.
Nos capítulos 13 e 14, verifica-se que Absalão ficou foragido, após assassinar seu irmão. Davi tinha grande amor por Absalão e, após três anos dos acontecimentos que culminaram no assassinato e fuga, Davi o recebe de volta. Percebe-se ainda, que Absalão era famoso. Em 2ª Samuel, cap. 14, vers. 25 lemos que ele era “celebrado” por suas qualidades físicas invejáveis e impecáveis. Possivelmente tudo isso havia “subido à cabeça”. Em vez de assumir uma postura de humildade, o texto nos diz que ele trafegava em uma carruagem com cavalos. Nesse sentido, formou uma extraordinária comitiva de “batedores”, constituída por cinqüenta homens que corriam “adiante dele”. Certamente tudo isso contribuía para chamar ainda mais atenção, para a sua pessoa, e ia se encaixando nos planos que possuía, para a tomada do poder.
Observa-se ainda, que Absalão era comunicativo e convincente, ou seja, ele não era preguiçoso. Levantava-se cedo e já estava na entrada da cidade, falando com as pessoas. Possivelmente tinha facilidade de comunicação. Identificava aqueles que tinham necessidades, aqueles que procuravam acertar alguma disputa e logo entrava em conversação com eles.
Da mesma forma, percebe-se que ele era um homem mentiroso, porque sempre passava uma falsidade como se fosse verdade. Ele queria o poder a qualquer preço. Para isso não importava se ele tinha que atropelar até mesmo o seu pai.
Com isso, tornou-se um homem ambicioso e enganador. A sua ambição era em querer ser juiz na terra, posição maior que era ocupada pelo rei seu pai Davi. Certamente com a demonstração de impiedade e injustiça que retratou posteriormente, quando ocupou o poder, mostra que isso era ledo engano aos incautos. Quantas pessoas não foram iludidas por ele? Quantas o apoiaram porque acharam que ali estava a resposta a todas as suas preces e anseios? Sem sombra de dúvidas, muitas.
É importante salientar, que Absalão também foi um homem estratégico, porque angariava seguidores apaixonados por seu jeito de ser. Sua bandeira de justiça livre e abundante para todos, capturava o interesse, atenção e lealdade dos cidadãos de Israel. Não importava se havia um rei, legitimamente ungido pelo profeta de Deus. Aqui estava um pretendente ao poder que prometia coisas muito necessárias, que era formoso de parecer, que falava bem.
O pior de tudo é que literalmente falando ele era um falso religioso. Pois é. No Capítulo 15, versículo 7 de 2ª Samuel diz: “Ao cabo de quatro anos, disse Absalão ao rei: Deixa-me ir a Hebrom cumprir o voto que fiz ao SENHOR, Porque, morando em Gesur, na Síria, fez o teu servo um voto, dizendo: Se o SENHOR me fizer tornar a Jerusalém, prestarei culto ao SENHOR”. No transcorrer do texto, vemos que tudo não passava de casuísmo da parte de Absalão. Na verdade, ele procurava costurar alianças. Procurava trafegar pela terra realizando os seus contatos, mas a fachada era a sua devoção religiosa. Falso crente.
Posteriormente partiu Absalão a conspirar contra o próprio pai. No versículo 10 do mesmo capítulo 15 acima referido, vemos que, finalmente, Absalão partiu para a conspiração aberta: “Enviou Absalão emissários secretos por todas as tribos de Israel, dizendo: Quando ouvirdes o som das trombetas, direis: Absalão é rei em Hebrom”. Insurgiu-se de vez contra o rei que havia sido ungido por Deus, para governar Israel. Com isso, percebe-se claramente a falta de sensatez desse rapaz, porque ele se valia do seu poder de comunicação para instalar um governo que seria não somente despótico, como também imoral, como realmente instalou em 2ª Samuel cap. 16, vers. 22.
Com isso ele se tornou um grande líder popular. Confira no versículo 12: do mesmo capítulo 15: “Também Absalão mandou vir Aitofel, o gilonita, do conselho de Davi, da sua cidade de Gilo; enquanto ele oferecia os seus sacrifícios, tornou-se poderosa a conspirata, e crescia em número o povo que tomava o partido de Absalão”. Vemos que, saindo do estágio secreto, a campanha ganhou as ruas e ganhou intensa popularidade, ao ponto em que um mensageiro chegou a dizer a David (versículo 13) “o coração de todo Israel segue a Absalão”.
Pois bem.
Se formos verificar toda a história narrada na bíblia, logo veremos que Absalão se tornou inimigo do próprio pai. Durante anos, agiu como um filho rebelde, desrespeitando o pai e, pior ainda, desrespeitando o próprio Senhor. Seu egoísmo e sua rebeldia chegaram ao ponto de forçar uma guerra civil que custou a vida de 20.000 homens. Nesta guerra, as forças do rei mataram Absalão.
Quando Davi recebeu a notícia da morte de Absalão, ele não se gloriou na vitória sobre um inimigo. Ele lamentou a morte de um filho (2ª Samuel cap.18, vers. 33).
ABSALÃO SE TORNOU A DESGRAÇA DO PAI
Conforme vimos acima, a astúcia e a perdição de Absalão fez com que seu pai Davi sofresse muito. Duvido que haja tristeza mais profunda do que o sofrimento de um servo de Deus que perde para sempre um filho. Davi desejava a comunhão eterna com Deus, e certamente queria a mesma salvação para os seus filhos. Mas Absalão não deu valor à palavra de Deus, e não buscou as bênçãos espirituais que seu pai tanto ansiava. Absalão se mostrou um homem vão e carnal, e jogou fora a sua vida na busca por satisfação passageira.
Quando Davi soube da morte de Absalão, toda a esperança por aquele filho rebelde morreu. Até aquele momento, ainda alimentava a esperança, como fazem todos os pais de filhos desobedientes. Mas a morte foi seu fim. Ele não teve outra chance. A notícia da morte de Absalão sinalizou, para muitos em Israel, o fim do conflito e sofrimento que ele causou. Para Davi, trouxe as profundas emoções de um pai que perdeu para sempre um filho amado.
É comum, especialmente diante da morte triste de um filho como Absalão, procurar explicações para justificar sua trajetória à destruição. Ele tomou as decisões que o levaram ao fim trágico. Teve muitas oportunidades durante vários anos para arrepender-se e reconciliar-se com seu pai, mas não o fez. Poderia ter humilhado-se diante de Deus, diante Davi, e diante do povo de Israel, mas não venceu seu próprio orgulho e egoísmo. Absalão foi perdido porque foi rebelde.
A CULPA E O FRACASSO DE DAVI
Em alguns casos, bons pais servem ao Senhor e fazem de tudo para guiar seus filhos no caminho de Deus, mas o próprio filho, no seu livre arbítrio, rejeita a instrução e se destrói. Mas em muitos outros casos, os pais levam uma parcela de culpa. No caso de Davi, as falhas do pai certamente contribuíram à perda do filho. Apesar de ser um homem que buscava ao Senhor, Davi tropeçou diversas vezes. A falha mais marcante na vida dele foi o caso de adultério com Bate-Seba, levando-o a cometer homicídio. Davi se arrependeu, mas nunca recuperou totalmente a sua família. Como ele mesmo falou de exigir a restituição de quatro vezes de um ofensor, Davi “pagou” pelo seu crime com a vida de quatro filhos (veja em 2ª Samuel 12:19; 13:32; 18:14-20 e 1ª Reis 2:23-25). Sobre isso irei detalhar com inteireza em um estudo posterior que estou preparando sobre a vida de Davi.
Davi falhou, como dito acima, na maneira de lidar com esse seu filho rebelde. A compaixão de um pai falou mais alto do que a justiça de um rei e servo do Senhor. Aplicou a lei com parcialidade, dando a Absalão uma certa liberdade para pecar. Poucas exigências de Deus são mais difíceis na prática, do que a aplicação de disciplina dura aos próprios filhos. Na Antiga Aliança, os próprios pais tiveram que entregar os filhos rebeldes ao julgamento e à morte. Hoje em dia, não é preciso nenhum pai ou nenhuma mãe matar seus filhos rebeldes, e nem devem, mas não podem ser cúmplices dos seus erros (veja em Efésios cap. 5, vers. 11).
No caso de filhos cristãos que voltam ao pecado, os pais têm a obrigação de pôr a comunhão com Deus acima da relação com o filho. O amor verdadeiro confiará no Senhor para fazer tudo que ele exige na tentativa de resgatar o filho rebelde. O mesmo amor porá Deus acima do homem, acima do próprio filho (veja em Mateus cap. 22, do vers. 37 ao 40).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que vimos nesta dissertação, a história de Absalão deixa claro que o mesmo, movido por um espírito de rebeldia, sempre almejou o poder absoluto. Para isso, matou seu irmão, fez campanha, conspirou e lutou contra o seu próprio pai. Aparentemente esse político astuto foi bem sucedido. Foi alçado ao poder e lá se consolidou perseguindo e aniquilando os seus inimigos, entre os quais classificou o seu pai Davi, a quem tentou igualmente matar.
Ocorre que os planos de Deus eram outros. Deus jamais poderia deixar essa trama ter sucesso. Seu conturbado reinado foi de curta duração. Causou muita tristeza, operou muita injustiça e terminou seus dias enganchado pelos cabelos em uma árvore, enquanto fugia, e foi morto a flechadas.
Quem dá asas á cobras, sempre acaba picado por elas.
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