22/10/2014

Síndrome de Diótrefes

Nos escritos de João, o Apóstolo, mais exatamente em sua terceira carta, temos a menção de um homem chamado Diótrefes como a “expressão exata” de um mal que acometeu a igreja naqueles dias e, mesmo hoje, acomete aqueles que devem ser exemplo para o rebanho no que diz respeito à “humildade” e “mansidão” (Mt 11:28-30). A postura dele era contrária ao propósito de apresentar a Verdade manifesta na Pessoa de Cristo (Jo 14:6 e II Cor 13:8).
Quando irmãos “amadurecidos” pela Palavra tomam frente ao trabalho da igreja, necessariamente tornam-se o modelo para o rebanho (II Tm 1:13) e, diante desta responsabilidade, qualquer atitude que seja contrária ao “Espírito de Cristo” (Rm 8:9 e I Pe 1:11), redundará em prejuízo para o povo de Deus. Gaio tornou-se modelo para o rebanho e o reconhecimento de João, o Apóstolo, pelo ministério dele, revela o caráter de um verdadeiro líder que busca promover o crescimento da igreja não somente quantitativo, mas qualitativo no que diz respeito à presença de Cristo no lugar do seu ministério. As palavras nos versos 1-8 são reveladoras quanto ao Espírito que deve nutrir o servo que está disposto a revelar a Pessoa de Cristo aos pecadores, em detrimento de si (Jo 3:30 e 16:8-11).
O quadro evidenciado a partir do verso 9 é um paradoxo ao real desejo de Deus para com a Sua igreja. Diótrefes, “o líder”, é apresentado com o pretenso “distintivo” de “homem espiritual”; como alguém que se considera imbuído de “zelo doutrinário”; como um verdadeiro paladino do “tradicionalismo” cristão e que “tenta tomar a frente” da Obra de Deus pela força, algo que somente redunda em problemas para a igreja (Zc 4:6), sendo o mais prejudicial deles o espírito exclusivista destituído de qualquer racionalidade, pois é importante considerar que pessoas com esta atitude buscam tão somente uma posição e a exaltação do próprio nome. A tendência de tal líder é tornar-se tão somente um déspota.
O afetamento que sobrevém sobre tal pessoa somente promove malefícios, os quais são revelados no significado desta palavra, que são: fingimento, simulação; presunção; prejuízo; alteração moral ou física; falta de naturalidade; arrebicar-se ridiculamente (tornar-se um “pavão”). Infelizmente, até mesmo aqueles que se achegam ao local de reunião da igreja, percebem o “grau de espiritualidade” deste “portador” da Palavra. Não podemos acreditar que tal ministério poderá render algum fruto (Jó 14:4).
Somente uma mente espiritual, de pessoas que têm conhecido a mente de Cristo, e que são conhecidas por Ele (II Cor 2:12-16), pode sentir tristeza diante de um quadro trágico como este, apresentado por João, o Apóstolo.
Diótrefes – Buscando a Primazia (9)
No caso de Diótrefes, primazia pode ser entendida da seguinte maneira: eu tenho prioridade; eu tenho excelência; eu tenho superioridade; eu tenho vantagem; eu tenho competência. Mas, o mais prejudicial significado para este nome é “rivalidade”. Diótrefes tornou-se um rival de João, o Apóstolo e, consequentemente, rival de Cristo (Quem, na qualidade de homem, conhecia a Cristo mais que João, o Apóstolo?).
Irmãos, nós devemos abraçar a ideia que não existe uma “nata”, uma classe chamada “supra-sumo” dentro do seio da igreja, e devemos “abominar” qualquer atitude que vá de encontro ao ensino das Escrituras, a qual revela que somos todos iguais, porém investidos de “grau de responsabilidade” para com a Obra de Deus (Jo 6:29). Ao contrário de Diótrefes e sua insanidade (ausência de saúde nas faculdades mentais), as palavras do Senhor Jesus têm a finalidade básica de “unir almas ao redor dEle” e, aberto o entendimento, “tornar essas almas parte dEle”. Vejam as Suas palavras:
“E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim” (Jo 17:20-23).
É importante considerar que não podemos buscar a palavra final revestidos de um grau de intolerância tal que, se a aprovação não passar pelo “crivo unilateral”, em toda e qualquer questão apresentada à igreja, nada poderá ser realizado. Tal atitude está totalmente destituída do propósito de unidade no Corpo de Cristo e não “vislumbra” nem de perto o fato de que “Cristo é o primogênito de entre os mortos, para “em todas as coisas ter a primazia” (Fp 2:1-11 e Cl 1:18).
Diótrefes – Fechando as Portas (10)
Outro aspecto terrível de Diótrefes era o fato de que ele não entendia o caráter de um “cooperador”. Sua falta de personalidade, já que não tinha “espiritualidade”, enxergava os irmãos mais sobre a ótica da “concorrência”, e não da “cooperação”. Seu desejo era mais resguardar uma posição, um “status”, considerando os demais inferiores a ele. A malícia do seu discurso visava destruir a reputação dos verdadeiros irmãos e servos de Cristo. Ele não somente proferia palavras, como também expulsava os que se achegavam àquela localidade para visitar o rebanho, em detrimento ao direito dos “convertidos” de comungar a Verdade com aqueles que traziam no coração o conhecimento da Pessoa de Cristo. O pecado de Diótrefes era falar mal dos irmãos desconhecendo esta verdade:
“Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz” (Tg 4:11).
Podemos incorrer no risco de “errar gravemente” acreditando que estamos defendendo “princípios bíblicos”, quando na verdade estamos estabelecendo tão somente uma “mentalidade exclusivista” fundamentada no “eu” que coloca a Pessoa Cristo em segundo plano no processo de edificação da igreja. A edificação da igreja leva em conta que Cristo é a “Pedra Principal da Esquina” (I Pe 2:6). Ainda que nos intitulemos defensores da Verdade, vale ressaltar que a Verdade não precisa de defensores, visto que a Verdade é a própria Pessoa do Senhor Jesus Cristo (II Cor 13:8). Somos apenas proclamadores da Verdade, as demais coisas Ela faz por si mesma. O procedimento de Diótrefes revelava tão somente que ele era um lobo entre o rebanho (Jo 10:12).
Diótrefes – O Dono da Verdade (10)
Quando o trabalho local tem um líder que se revela como “super-crente”, podemos dizer que há uma tendência a “abandonarmos os princípios”. O exemplo clássico é o fato de ensinarmos corretamente que não temos um “Pastor Profissional”, mas se adotarmos a atitude de Diótrefes, a realidade do discurso será outra quando percebermos que todo o rebanho irá girar ao redor de “um homem”. Isto é fugir dos princípios bíblicos. Então, qual o valor destas palavras?:
“Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo? Dou graças a Deus, porque a nenhum de vós batizei, senão a Crispo e a Gaio, para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome” (I Cor 1:11-15).
Tal atitude contraria o fato de que somos cooperadores e despenseiros dos mistérios de Deus revelados em Cristo (I Cor 4:1-2). Assim, haveria então lugar para outros ministros da Palavra em nosso meio, visto que ninguém mais neste mundo tem algo da multiforme sabedoria de Deus (que é Cristo) a nos ensinar? Somente uma mente imbuída de orgulho poderia achar-se auto-suficiente e, assim, “cuidar” do rebanho com uma atitude totalmente contrária ao que se pede a um líder (I Tm 3:1-16).
Racionalizando Os Fatos
Não existe uma “classe seleta” no que diz respeito à liderança na igreja, que é o Corpo de Cristo, tendo ele como Cabeça deste Corpo. No Evangelho de Marcos o Senhor nos ensina que todos os que desejarem ser “primeiros”, serão servos de todos (Mc 10:43-44). Somos membros do Corpo de Cristo e responsáveis por glorificar a Cabeça, que é Cristo. Todos os “Diótrefes” deveriam dizer: “Eu não sou Cristo, mas servo de Cristo”. Diótrefes é o retrato de um homem destituído do conhecimento de Deus em Cristo, um homem irado, que não sabia ouvir e desenfreado em palavras. Aprender de Cristo requer de nós a seguinte atitude:
“Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1:19).
Estar investido de autoridade requer “tomar posse” de algo que foi confiado. As autoridades que “reinam” sobre nós, em nossa vida secular, e para o bem da nação, são apenas “mandatários” desta mesma nação. Eles “tomaram posse” de uma responsabilidade. No âmbito da igreja, a validade desta posse fundamenta-se na responsabilidade e respeito à dignidade dos irmãos que foram comprados pelo “mesmo Sangue”, sendo o “mesmo Fruto” do penoso trabalho do Senhor. Uma postura de soberba ofusca o fato de que estar investido de autoridade requer “encabeçar” as fileiras com aqueles que caminham no mesmo deserto, sobre o mesmo terreno, sob o mesmo sol, suportando as mesmas dificuldades e que esperam de um “líder” tão somente a tomada de atitudes em total submissão à vontade de Deus, e não à própria vontade.
O integrante de uma liderança alcança essa posição não pelo fato de ter sido “forjado” numa escola de líderes, mas pela maturidade espiritual “moldada” pelo Espírito Santo através de anos. Ter um “título” não assegura maturidade, visto que encher-se de teoria não tem fins práticos quando a vivência daquilo que se aprendeu na “sala de aula” limita-se tão somente às faculdades mentais de alguém que, possivelmente, vivenciou pouquíssimas coisas do que aprendeu entre quatro paredes.
O Senhor Jesus transmitia ensinamentos “de uma vida prática”, pois aquilo que Ele propunha “era uma realidade em Sua vida”. Nossa tristeza é o fato de que podemos encontrar cristãos com décadas de vivência no seio da igreja para os quais o Espírito Santo ainda não pode “confiar” uma posição de responsabilidade. Mas o paradoxo mais triste é o de cristãos que acreditam ter recebido esta confiança, quando na verdade não a receberam, pelo fato de  ainda não estarem revestidos de humildade e mansidão para conduzir um povo (Nm 12:3 e Mt 11:27-30).
Realizar algo para Deus requer um “selo de autenticidade” (Ef 1:13). Quando o Espírito Santo realiza através de nós a obra de manifestação de Cristo ao mundo, podemos contar com a aprovação de Deus para este ministério. Realizar a obra de Deus com as próprias forças caracteriza o erro da unilateralidade de ações que, necessariamente, deveriam ser realizadas pelo “todo” (Zc 4:6). O Espírito Santo está em todos os que fazem parte da igreja, sendo Ele quem realiza a Obra através de nós. Uma coisa é ter o seu irmão como um cooperador, outra coisa é tê-lo como executor das suas vontades e atentar somente para o próprio ventre (Fp 3:17-19).
É possível encontrarmos o absolutismo e a intransigência no seio da igreja, mas creia, não é a vontade de Deus que a sua igreja seja assim conduzida. Por isso, é necessário que uma liderança tenha personalidade e capacidade que reflita a maneira como o próprio Senhor Jesus Cristo conduziu os seus discípulos. Aqueles homens (à exceção de Judas Iscariotes) amavam o Senhor por aquilo que viam n´Ele. Sabiam que Ele vinha de Deus, e tornavam-se a cada dia parte de Deus, pois comungavam o mesmo desejo do Filho, d´Aquele que estava disposto a satisfazer os desejos do Pai (Hb 2:11).
Sermos portadores da Verdade não faz de nós “senhores da Verdade”. A falta de maturidade, que é o reflexo da teoria sem prática, pode infiltrar em nós o orgulho que há em Satanás e fazer-nos arbitrários em “nossos desejos” (I Tm 3:6). Este orgulho rejeita o fato de que aprendemos sempre com os demais irmãos. Um exemplo válido para o nosso aprendizado é o fato de que a “alta posição” (entenda responsabilidade) de Moisés, não cegou “os seus olhos” (entendimento) àquilo que Jetro, seu sogro, enxergou como errado na condução daquele povo. Jetro disse:
“(…) Não é bom o que fazes. Totalmente desfalecerás, assim tu como este povo que está contigo; porque este negócio é mui difícil para ti; tu só não o podes fazer” (Ex 18:17-18).
Assim, cabe a nós atentar, também, para este ensino:
“Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda a aparência do mal. E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (I Ts 5:21-24)
Que o Senhor nos abençoe, e acrescente entendimento aos nossos corações!

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