A mensagem do Apocalipse foi
enviada principalmente “às sete igrejas que se encontram na Ásia” (1:4). Este
fato é frisado várias vezes no primeiro e no último capítulos (1:4,11,20;
22:16). Os capítulos 2 e 3 são direcionados especificamente às igrejas, com uma
mensagem especial para cada uma delas.
Estas sete cartas seguem a forma
de decretos imperiais, começando a sua mensagem com a palavra “diz” (grego,
legei). Estas cartas foram escritas num formato padrão (Saudação, Posição de
Jesus, Avaliação da congregação, apelo a ação, Promessa de recompensa aos
vencedores), mas o conteúdo de cada é específico e fala a respeito das
necessidades da própria congregação citada.
Sete Igrejas Independentes
A necessidade de sete cartas bem
diferentes reforça a importância de respeitar a autonomia de cada congregação.
Estas sete igrejas se encontravam numa área relativamente pequena. Uma pessoa
entregando todas as cartas faria um circuito de pouco mais de 500 quilômetros.
Nesta área pequena, sete igrejas bem diferentes apresentaram características
distintas. Jesus não enviou uma carta “ao bispo da Ásia” (não existia qualquer
ofício de líderes regionais entre as igrejas primitivas) para resolver, de uma
vez, todas as questões nas várias igrejas. As igrejas não eram subordinadas à
autoridade de alguma hierarquia, e não havia laços estruturais entre
congregações. Cada congregação era independente, com seus próprios desafios e
sua própria personalidade. Cada uma recebeu um comunicado diretamente de Jesus,
e lhe responderia diretamente pela sua obediência ou rebeldia. Ele não operou
por meio de alguma hierarquia de autoridades eclesiásticas. As pessoas que
querem seguir, hoje em dia, as instruções do Novo Testamento devem lembrar este
fato. Não há base bíblica para criar ou manter organizações religiosas ligando
congregações. As hierarquias nas denominações e as conferências e congressos
estaduais, regionais, nacionais e internacionais são invenções de homens sem
nenhuma autorização bíblica.
Ao Anjo da Igreja em Éfeso (Apocalipse 2:1-7)
Vamos considerar o conteúdo desta
carta. Confira na sua Bíblia cada citação.
A igreja em Éfeso (1): Éfeso era
a cidade mais importante da província romana de Ásia. Foi situada perto do mar
Egeu. Duas estradas importantes cruzaram em Éfeso, uma seguindo a costa e a
outra continuando para o interior, passando por Laodicéia. Assim, Éfeso teve
uma localização importantíssima de contato entre os dois lados do império
romano (a Europa e a Ásia). Historiadores geralmente calculam a população da cidade
no primeiro século entre 250.000 e 500.000. Éfeso era conhecida, também, como o
foco de adoração da deusa da fertilidade, Ártemis ou Diana.
Sabemos algumas coisas sobre a
história da igreja em Éfeso de outros livros do Novo Testamento. No final de
sua segunda viagem, Paulo deixou Áqüila e Priscila em Éfeso, onde corrigiram o
entendimento incompleto de Apolo sobre o caminho do Senhor (Atos 18:18-26). Na
terceira viagem, Paulo voltou para Éfeso, onde pregou a palavra de Deus por
três anos (Atos 19:1-41; 20:31). Na volta da mesma viagem, passou em Mileto e
encontrou-se com os presbíteros de Éfeso (Atos 20:17-38). Durante os anos na
prisão, Paulo escreveu a epístola aos efésios. Também deixou Timóteo em Éfeso
para edificar os irmãos (1 Timóteo 1:3).
Destas diversas referências aos
efésios, podemos observar algumas coisas importantes sobre essa igreja. Desde o
início, houve a necessidade de examinar doutrinas e aceitar somente o que Deus
havia revelado. Assim, Áqüila e Priscila ajudaram Apolo (Atos 18:26); Paulo
advertiu os presbíteros do perigo de falsos mestres entre eles (Atos 20:29-31),
e orientou Timóteo a admoestar os irmãos a não ensinarem outra doutrina (1
Timóteo 1:3-7). A carta de Paulo aos efésios destacou a importância do amor
(5:2), um tema frisado, também, nesta carta no Apocalipse.
Aquele que conserva na mão
direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro (1):
Esta descrição de Jesus vem de 1:12-13,16,20 e mostra o conhecimento e a
soberania de Jesus em relação às igrejas. Tanto os efésios como os discípulos
nas outras igrejas precisavam lembrar da presença de Jesus. Ele anda no meio
das igrejas, observando o procedimento delas, e pronto para agir quando for
necessário. Segurando as sete estrelas, ele demonstra seu poder e domínio.
Conheço as tuas obras (2-3):
Jesus elogia várias qualidades da igreja em Éfeso:
● Labor e perseverança – Deus quer servos dedicados que não
desistem (Tiago 1:4). Jesus falou da importância da perseverança diante de
perseguição (Mateus 10:22; veja Romanos 5:3; Tiago 1:12), observando que
perseguições causam o amor de muitos a esfriar (Mateus 24:10-13). Devemos
perseverar na oração (Atos 1:14; Colossenses 4:2; 1 Timóteo 5:5), na doutrina
verdadeira (Atos 2:42; 1 Coríntios 15:1), nas boas obras (Romanos 2:7) e na
graça de Deus (Atos 13:43). Na sua perseverança, os efésios suportaram provas e
não se desanimaram.
● Não suportar homens maus – Depois de tantas advertências sobre o
perigo de falsos mestres, a defesa da verdade se tornou um ponto forte da igreja
de Éfeso. Homens que se alegavam ser apóstolos foram postos à prova e achados
mentirosos (veja 1 João 4:1). Precisamos do mesmo zelo da verdade hoje. O mundo
religioso está cheio de pessoas que se dizem profetas e apóstolos. Devem ser
avaliadas conforme a palavra de Deus. Pessoas que alegam trazer novas
revelações são mentirosas (Gálatas 1:8-9; 1 Coríntios 13:8; Judas 3). Os
apóstolos eram testemunhas oculares de Jesus ressuscitado (veja Atos 1:22; 1
Coríntios 15:8-9). Aqueles que se chamam apóstolos, hoje em dia, são falsos
mestres. Não devemos suportá-los.
Tenho ... contra ti (4): O problema dos efésios não foi uma questão
de doutrina correta, mas de amor. Abandonaram o seu primeiro amor. Esqueceram
dos grandes mandamentos que formam a base para todos os ensinamentos de Deus
(Mateus 22:37-40). Paulo instruiu os efésios sobre a importância do amor como
alicerce da vida do cristão (Efésios 3:17; 4:2,16: 5:2; 6:23). Não devemos
distorcer esta advertência para criar um conflito entre o amor e a verdade. Podemos
defender a verdade, como os efésios fizeram e, ao mesmo tempo, praticar o amor.
Foi exatamente isso que Paulo pediu aos efésios: “Mas, seguindo a verdade em
amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4:15).
Lembra-te, arrepende-te e volta
(5): Jesus pede três respostas dos efésios:
1. Lembra-te, pois, de onde caíste: Não foram as alfarrobas dos
porcos que levou o filho pródigo ao arrependimento; foi a lembrança da casa do
pai. Para os efésios se arrependerem, teriam que lembrar da comunhão com Deus
que deixaram para trás. Para permanecer fiéis, a presença de Deus precisa ser a
coisa mais preciosa na nossa vida. Uma vez que caímos, é necessário desenvolver
novamente o amor para com ele.
2. Arrepende-te: O arrependimento é a mudança de atitude. Quando
decidimos deixar o pecado e fazer a vontade de Deus, nós nos arrependemos. O
pecador precisa se arrepender antes de ser batizado para perdão dos pecados
(Atos 2:38). O cristão que tropeça precisa se arrepender e pedir perdão pelos
seus pecados (Atos 8:22). Aqui, uma igreja cujo amor esfriou-se precisa se
arrepender.
3. Volta à prática das primeiras obras: A mudança de atitude (o
arrependimento) produzirá frutos (Mateus 3:8). Pelas obras, a pessoa
arrependida mostrará a sinceridade da sua decisão. A igreja em Éfeso precisava
voltar à prática do amor.
Se a igreja não se arrepender,
Jesus removeria o seu candeeiro. Eles não permaneceriam na abençoada comunhão
com o Senhor.
Odeias as obras dos nicolaítas,
as quais eu também odeio (6): Mais um ponto a favor, reforçando o elogio dos
versículos 2 e 3. Os nicolaítas são mencionados somente aqui e na carta à
igreja em Pérgamo (15). Não sabemos a natureza precisa do seu erro, mas sabemos
que era abominável a Deus. Neste ponto, os efésios odiavam o que Deus odiava.
Nós devemos fazer a mesma coisa, sendo amigos do bem (Tito 1:8) e detestando o
mal (Salmo 97:10).
Quem tem ouvidos, ouça (7):
Freqüentemente, Jesus chama os ouvintes a ouvirem a sua mensagem (Mateus 11:5;
13:9,43; etc.). O problema de um coração teimoso se reflete nos ouvidos tapados
que recusam ouvir a verdade (Mateus 13:15). Os efésios provaram aqueles que
falavam, agora eles seriam provados pela maneira de ouvirem.
O Espírito diz às igrejas (7): Jesus transmitiu a sua mensagem por
meio dos anjos das igrejas (2:1,8,12,18; 3:1,7,14), mas o Espírito, também,
participa da revelação (veja 1:4) e da recompensa dos fiéis.
Ao vencedor ... árvore da vida ... paraíso de Deus (7): A
recompensa aguarda os vencedores que perseveram no amor e na verdade. Aqueles
que desistem, abandonando para sempre o seu amor, não receberão o galardão.
Jesus descreve a comunhão com Deus em termos que nos lembram do jardim do Éden.
Por causa do pecado, o homem foi expulso do jardim em que Deus andava (Gênesis
3:22-24,8). Aqueles que andam com Deus têm a esperança da vida no paraíso do
Senhor.
Conclusão
Uma igreja rodeada por religiões
falsas e sujeita à influência de homens maus precisa examinar todos os
ensinamentos e rejeitar todas as falsas doutrinas. Mas ela precisa, também,
demonstrar o amor verdadeiro para vencer o mal. Devemos amar a verdade, não
somente pelo desejo de ser “corretos”, mas porque ela vem do Deus que merece
nosso amor. Devemos amar aos outros, porque foram feitos à imagem e semelhança
de Deus. “Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns
aos outros” (1 João 4:11).
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