03/11/2014

SÍNDROME DE ABSALÃO


Temos falado muito de síndromes, nesta semana. Mas o que é uma síndrome?
Uma síndrome é um grupo de sintomas que aparecem juntos. Para que alguém seja caracterizado como portador de determinada síndrome, é preciso que o conjunto de sintomas se apresente, todos, indistintamente nessa pessoa. Ao falar da “síndrome de Absalão”, os que conhecem a Bíblia Sagrada, sem nenhuma dificuldade, lembrar-se-ão do mais perfeito e atlético filho de Davi (2 Sm 14.25).


Um dos primeiros sintomas da síndrome de Absalão aparece quando ele, após ter sua irmã violentada por um de seus irmãos, resolve matá-lo de forma covarde (2 Sm 13.22). Veja bem, é perfeitamente normal que ele tivesse ressentimentos de Amnom, pois fizera algo terrível com sua irmã. O próprio Davi ficou enraivecido com Amnom pelo que ele havia feito (2 Sm 13.21), mas infelizmente, por ser este o seu filho primogênito, acabou não punindo-o. Como o coração de Absalão estava no trono de seu pai e Amnom era quem, por tradição, assumiria, é mais do que claro que sua motivação para assassinar Amnom não foi simplesmente vingar o que este fizera a Tamar (algo que seria, até mesmo pelo contexto, tolerável naquela sociedade), mas eliminar o concorrente. O caso, aparentemente justo pela covardia do incesto de Amnom, foi apenas um pretexto de quem já nutria uma má intenção. Em outras palavras, não foi o que a gente popularmente conhece como “limpar a honra” ou coisa que equivalha, pois nesse caso o cidadão chama o outro para um acerto de contas tête-à-tête, e não fica espreitando de forma covarde para encontrar o melhor momento de atacar.

Em dois anos, Absalão arquitetou um plano para matar Amnom e no momento oportuno partiu para a sua consecução. Aproveitando-se da fragilidade de Davi que, sem desconfiar da maldade de sua oferta, ainda o abençoou, Absalão insistiu com o rei para que concedesse a ele a honra de poder prestar o seu “favor” a, pelo menos, Amnom. Após relutar na liberação de Amnom, o homem segundo o coração de Deus acabou cedendo, deixando, não apenas Amnom, mas todos os seus filhos irem. Absalão arregimentou os seus servos, dizendo que iria embebedar a vítima e que eles aproveitassem esse momento de vulnerabilidade e que não titubeassem, mas fossem valentes (interessante que o covarde nunca é valente, mas exige isso dos outros) e matassem Amnom. Bem, assim sucedeu e o rei muito se angustiou, chorou e pranteou juntamente com toda a sua casa, mas o covarde Absalão fugiu por três anos.

É interessante como o portador da síndrome de Absalão consegue fazer-se de vítima e arrumar advogados. Absalão conseguiu o apoio de Joabe e este planejou enganar o rei Davi, usando uma mulher para fingir-se. A mulher, muito sagaz, ludibriou Davi com um teatro digno de qualquer drama. Após obter o juramento do rei, inclusive envolvendo Deus, mesmo tendo desmascarado a personagem, Davi honrou sua palavra e mandou trazer de volta a Absalão. Entretanto, mesmo sendo temente a Deus, Davi tinha honradez e brio, e proibiu que o covarde Absalão viesse até a sua presença. Como Absalão agora havia conseguido chegar perto do rei (pois os maldosos querem enfiar-se onde não são chamados para estarem em uma posição em que o bote em sua vítima seja certeiro), depois de dois anos ele queria ser recebido (É assim até no dia de hoje: O elemento apronta e, sem nenhuma vergonha na cara, aparece diante da presença de quem ele prejudicara e de quem ambiciona o cargo, e o cumprimenta como se nada tivesse acontecido). Como Davi não recebia o usurpador (é prudente e legítimo evitar pessoas que não merecem confiança), Absalão logo tratou de procurar o seu “advogado” para ajudá-lo.

Joabe, que ajudara Absalão até ali, agora não queria ir até o fim com sua traição. Após duas convocações do traiçoeiro Absalão, e com a insistente recusa de Joabe, o usurpador mandou atear fogo na roça de Joabe que ficava junto a sua. Esse ato obrigou Joabe a procurar Absalão. Diante do acontecido, Joabe teve de ir a Davi e pedir que o rei recebesse o traidor. Com o perdão do rei, o ambicioso teve toda a oportunidade que queria. Com o habeas corpus obtido do pai, Absalão pôs o seu plano diabólico em prática. Ele arrumou uma equipe de cinquenta asseclas e ficou à beira do caminho da porta da cidade e interpelava as pessoas que dependiam do rei (mas que por alguma razão não eram prontamente atendidas), querendo finalmente àquilo que ele sempre ambicionara: o trono de Israel. Absalão apresentava-se como se fosse o salvador da pátria. Algo que é comum a todo portador da síndrome de Absalão é a petulância de achar-se o solucionador de problemas, o messias. O rei não vê, os ministros não veem, os responsáveis não enxergam, todos são tapados. Somente ele “tem” visão e consegue enxergar problemas. O final da história todos já sabemos: O próprio Joabe é quem teve de dar cabo da vida do usurpador, pois afinal havia sido ele mesmo quem criara todo aquele problema para o rei.

Lendo essa história bíblica, é impossível não fazer um paralelo com o que a gente vê diariamente. E, quando a gente pensa que já viu tudo, que não mais é possível haver superação, quebra de recorde do absurdo ou coisas do gênero, pasmem, existe espaço ainda para as mais sórdidas, estapafúrdias, escalafobéticas, infelizes e covardes posturas. Atitudes que fazem revirar o estômago. Pior é admitir que não existe campo mais propício e favorável à proliferação dessas vilezas, que a religião. No terreno fértil do misticismo e com uma pose de “guardião da lei”, muita gente vai se fazendo e impondo-se por aí.

Há muitos anos, li no Mensageiro da Paz um artigo que dizia o quanto os homens conseguem superar o Diabo na empreitada de “tentar”. Lembrei-me da estória de um sacerdote ascético que isolou em uma caverna um grupo de jovens aspirantes ao serviço religioso no intuito de obrigá-los a jejuar. No outro dia, quando veio apanhá-los, o velho percebeu alguns fragmentos de cascas de ovos espalhados pelo chão. Ao indagá-los acerca da “quebra do jejum”, ouviu a seguinte resposta: “O Diabo tentou-nos, achamos alguns ovos de codorna, os cozinhamos em uma colher aquecida por uma vela e acabamos comendo”. Conta-se que, na mesma hora, o Tentador apareceu e defendeu-se: “Nem eu sabia que dava para cozinhar ovos usando uma colher e uma vela”.

Assim, não tenho dúvida que muito da falta de vergonha e caráter, da diabolicidade das atitudes, dos cinismos disfarçados de espiritualidade, do oportunismo com os deslizes involuntários do próximo e outras demonstrações de torpezas, acontecem com a “relativa autonomia” dos indivíduos para fazerem e arquitetarem o mal. Os elementos conseguem deixar o Tentador com inveja de seus planos maquiavélicos por uma razão muito óbvia e simples: Eles aprendem com o Diabo, mas conseguem superá-lo ao pensar em dimensões que o próprio Tentador não vislumbrou! Provérbios 27.20 acusa a receita do porque desse comportamento.

Ultimando o post, o leitor pode indagar-me: “Mas, afinal, o que é a ‘síndrome de Absalão?’” Ah, já ia esquecendo-me. É querer estar onde não lhe compete. É querer ser o que você não é. É meter-se no que não lhe diz respeito. É aceitar os cordiais cumprimentos do pai (amigo, parente, conhecido, líder, superior, cônjuge) e, no momento seguinte, intentar tomar-lhe o trono, usurpando-lhe o lugar. É fabricar notícias caluniosas e querer demonstrar conhecimento e acesso privilegiado de informações que não lhe cabem. É não ter noção do ridículo e ficar se oferecendo como um pastel que passou o dia todo na estufa e que ninguém por ele interessou-se. É ser pior do que um camaleão e flertar com todo o mundo sem definir-se de que lado está. É provocar alguém que não lhe fez nenhum mal, sabendo que esse alguém não poderá defender-se por forças alheias à sua vontade, tirando disso vantagens pessoais. É não contentar-se com o que tem, possui, e é, mas querer o que não é seu, ambicionar funções que não lhe foram oferecidas (sendo claramente incapaz e não reunindo nenhuma condição para ocupá-las).

O portador da síndrome de Absalão quer passar a imagem de justiceiro, mas como sua intenção nunca é aquela que ele deixa transparecer e suas motivações logo se mostram, muito cedo as pessoas percebem que ele na realidade é um carniceiro. Pensando bem, ele próprio sabe, consigo mesmo, que não passa de um usurpador traiçoeiro, uma raposa ambiciosa que age covardemente. Ele aparentemente quer mostrar serviço, mas esquece que nem todo o mundo é incauto e ingênuo para acreditar em suas ações mesquinhas e rasteiras. Ele esquece que nem todas as pessoas têm a memória curta, pois muitas lembram-se do seu discurso inicial e sabem que ele muda ao sabor da situação, é somente uma questão de valor (“quem dá mais?”), mas o que ele é já está mais do que evidente... Pode ter certeza, muita gente abusada que aparece por aí, não passou por um processo de correção de excessos. Acham-se acima do bem e do mal, pensam que podem dizer tudo que lhes vem à boca e que nada sofrerão. Sua motivação é apenas o inflar-se falando mal dos outros. Como urubus, precisam de algum vestígio de carniça para sobreviver.

Não quero comparar-me a Davi quando fugia de Absalão e recitar o Salmo 3, pois sou totalmente indigno. Todavia, acredito no mesmo Deus que Davi e que Absalão dizia também crer (2 Sm 15.7-9), e sei que o Senhor está contemplando a motivação e as intenções com que cada um age, por isso, diante dEle digo sem medo de errar: Se você identificou algum desses sintomas em sua vida e trajetória, busque a cura rapidamente, pois a epidemia da síndrome megalomaníaca de Absalão está no “ar”, e os próprios “Joabes”, estarão prontos a dar cabo de suas criaturas no momento que eles acharem que elas se tornaram uma ameaça fora do comum. Agora, se você é um Absalão mesmo, não tem jeito, quem deve se cuidar são os “Davis”, pois você nunca mudará! O seu fim será ficar pendurado pela própria cabeça, pela suposta fama, e terminará eliminado por alguém que o ajudou em seus planos diabólicos. Suponhamos que, por Deus ser misericordioso, você consiga dar um golpe de Estado e tome o poder. Serás para sempre um infeliz, viverás enclausurado no próprio castelo de areia que você construiu, contudo, nunca terá a honra, a alegria e o prazer de ocupar o que quer que seja por méritos, chamado, vocação, dom ou benevolência divina, pois terá de conviver com a realidade de sua vileza e sordidez, com sua torpeza e diabolicidade. Coisas com as quais as pessoas que possuem um mínimo de caráter e temor de Deus, jamais conseguiriam sobreviver e, por isso mesmo, esperaram - em Deus - e chegaram ao posto que você ambiciona, porém com uma grande diferença: na vontade e na direção dEle.

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